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        Os profissionais indicados para o tratamento da gaguez são os terapeutas da fala. A sua formação consiste numa licenciatura de 4 anos, sendo que no Porto este curso está disponível na Universidade Fernando Pessoa e na ESTSP. Os terapeutas da fala recebem durante este período formação que lhes permite identificar e tratar várias patologias relacionadas com a fala, entre as quais a gaguez.

      

       Os métodos para crianças e adultos são logicamente distintos, ainda que para cada um existam duas abordagens básicas dicotómicas. No que se refere às crianças, a dicotomia envolve o tratamento através da manipulação ambiental (tratamento indireto), ou um tratamento que visa trabalhar exclusivamente a fala da criança (tratamento direto). No caso dos adultos, a diferença reside numa alteração dos comportamentos, dos hábitos adquiridos aquando da fala, ou numa intervenção ao nível cognitivo, de aceitação, de stress e  nos problemas que advenham da gaguez.

       Assim, no que se refere aos tratamentos direcionados diretamente para a fala, temos por exemplo o Programa Lidcombe, para crianças e terapia de restruturação da fala, para adultos. Como abordagem ambiental e sintomática os mais comuns são tratamentos multifatoriais, para crianças e tratamentos de controlo/gestão da gaguez, para adultos.

        Os tratamentos para crianças com gaguez foram durante muito tempo pior estruturados do que os tratamentos para adultos, devido ao dogma de que a abordagem direta a uma criança que gagueja poderia tornar a situação pior. No entanto, estudos indicam o contrário, isto é, a gaguez pode ser reduzida se for chamada à atenção.

Tratamento para crianças

       Os tratamentos multifatoriais assentam na noção de que múltiplos fatores podem desencadear e manter a gaguez em crianças na pré-escolar. Um modelo clássico desta abordagem é o modelo das Exigências e das Capacidades, que indica que a gaguez ocorre quando as necessidades ou exigência de falar ultrapassam a atual capacidade cognitiva, linguística, motora ou emocional de fala fluente da criança. Isto pode ocorrer devido ao desenvolvimento rápido da linguagem (típico dos 2 aos 5 anos), devido a características intrínsecas desta, tal como o perfecionismo ou a hipersensibilidade, ou simplesmente devido a fatores externos que exigem demais à criança, como por exemplo, pais que falam muito rapidamente.

      Embora existam muitos exemplos de tratamentos multifatoriais, a Yaruss’ Family Focused Therapy é especialmente interessante, uma vez que tem como principais objetivos ajudar os pais a aprender sobre a gaguez e a implementar modificações na comunicação com a criança de forma a facilitar-lhe o desenvolvimento de um discurso fluente e de ferramentas de comunicação saudável.

        Evidências da eficácia da abordagem multifatorial são limitadas, embora alguns estudos preliminares apontem para uma redução da gaguez, uma maior preocupação por parte dos pais para o problema dos seus filhos e uma melhor capacidade de aceitação da gaguez. É necessária mais pesquisa neste sentido.

   Deste modo, nas últimas décadas os tratamentos indiretos (onde se trabalha apenas com os familiares), têm dado lugar a tratamentos mais diretos, de intervenção com a criança e onde esta desempenha o papel central. Apesar disso, o envolvimento parental contínua a ser um componente praticamente essencial em todos os tratamentos para crianças. 

Tratamento multifatorial

Programa Lidcombe

        O Programa Lidcombe foi desenvolvido para crianças com 5 anos ou menos. Consiste num tratamento em que através da ação dos pais se procura alterar o comportamento manifestado pela criança. Face ao tratamento anterior, este atua não só ao nível dos pais, mas também ao nível da criança. Foi desenvolvido por clínicos e pesquisadores da Universidade de Sydney, Austrália. 

        O Programa Lidcombe está divido em duas fases. A fase 1 envolve o ensino dos pais para que possam fazer comentários, os quais são designados no programa por contingências. Estas consistem em observações (positivas ou negativas), em elogios ou em comentários que obriguem a uma autorreflexão e autocorreção. O tipo de contingência varia de acordo com fala, se esta for do tipo livre de gaguez, ou com uma gaguez evidente. Por exemplo, quando a criança não gagueja pode-lhe ser dito (“Estas a falar bem!”) e quando apresenta uma gaguez evidente (“Disseste isso com clareza?). Nesta fase, os pais fazem o tratamento diariamente na vida rotineira da criança e têm consultas com o terapeuta semanalmente. Estas consultas são importantes de modo a ajustar o tratamento às necessidades e evolução da criança. Quando a gaguez na criança se torna ausente, ou atinge um nível muito baixo, começa a fase 2. Durante esta fase os pais passam a efetuar o tratamento menos vezes e também a frequência das consultas decresce.

     O Programa Lidcombe é um dos tratamentos mais documentados para a gaguez, a sua eficiência foi demonstrada em numerosos ensaios clínicos, embora seja sempre enaltecida a importância de uma intervenção prévia.

Tratamento para adultos

GAGUEZ
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